Depósito da INB, com material radioativo no Bairro Botuxim, em Itu
DA REDAÇÃO - com informações do Estadão e Portal Terra
FOTOS: Reproduções da Internet
Publicada em 05/10/2021 18h50
Uma reportagem publicada pelo jornal O Estado de São Paulo, no dia 2 de outubro, acendeu o alerta: a empresa Indústrias Nucleares do Brasil (INB), obrigada pelo Ministério Público a retirar 1.179 toneladas de rejeitos radioativos guardadas em velhos galpões localizados no bairro de Interlagos, na zona sul de São Paulo, pretende trazer esse material para Itu ou para a cidade de Caldas, localizada no Estado de Minas Gerais.
Em documento encaminhado ao Ministério Público do Estado de São Paulo, no qual o Estadão afirma ter tido acesso, a empresa estatal, que pertence ao Governo Federal e que é responsável pelo material, afirma que "a meta é levar os rejeitos para Itu (SP) ou Caldas (MG)" e diz que "a sua preferência é levar os rejeitos para a sua unidade localizada em Caldas", hipótese considerada como sendo a ideal. Porém, a INB argumenta, que essa solução encontra dificuldades por causa do Decreto Estadual 40.969/2000, que proíbe o ingresso de material radioativo no território de Minas Gerais. No mesmo documento, segundo a reportagem, a INB deixa claro que avalia construir, na unidade de Itu, onde já armazena rejeitos radioativos, uma nova instalação. "Nesta hipótese, ainda será um depósito intermediário que antecederá a deposição prologada dos rejeitos", afirma a empresa no documento, entre outras hipóteses que lista, demonstrando estar comprometida a solucionar o caso, exigência do MP-SP.
Ouvido pelo repórter André Borges, autor da reportagem do Estadão, o prefeito Guilherme Gazzola (PL) foi taxativo e afirmou que "a prefeitura da Estância Turística de Itu, mesmo sem ter sido notificada oficialmente sobre esta intenção da INB, se opõe totalmente ao recebimento do material na cidade". E acrescentou: "as instalações da INB em Itu ficam em um terreno que, no ano de 1991, foi declarado área de proteção ambiental (APA), o que torna a possibilidade da vinda desse material para a cidade ainda mais absurda".
A área a que o prefeito de Itu se refere é a Área de Proteção Ambiental - Apa Itu- Bairro Botuxim, criada para preservar o local através da Lei Nº 3268, de 24 de junho de 1991, sendo em seu artigo primeiro "Fica declarada como Área de Proteção Ambiental a área situada no Bairro Botuxim, de propriedade das Empresas Nucleares Brasileira S/A - NUCLEBRAS, e denomina "Sitio São Bento" com área total de 30,1093 hectares"e no artigo segundo "A declaração de que trata o artigo 1º da presente Lei tem por objetivo proteger e preservar o meio ambiente, com relação à ação nocivas do homem, especialmente no despejo de resíduos ou rejeitos radioativos".
A nova ameaça que Itu sofre neste momento é mais um desafio para a cidade, assim como para o município mineiro de Caldas, que tem cerca de 15 mil habitantes e que já armazena 12.534 toneladas de Torta II, quase 11 vezes o volume guardado nos galpões de Interlagos. No caso de Itu, estão armazenadas mais de 3 mil toneladas do mesmo material.
Entenda o caso
Nos anos 70, provavelmente em 1975, a empresa Nuclemon, subsidiária da Nuclebrás – Empresas Nucleares Brasileiras S. A. depositou material radioativo a céu aberto, de forma clandestina e silenciosa, sem nenhuma consulta à população, no sítio São Bento, que fica no bairro Botuxim, na área rural de Itu. Foi a partir da denúncia da professora Isabel Cristina Spinardi Moz, que morava perto do sítio, que se descobriu, em 1979, que o material era radioativo. O produto depositado em Itu, denominado Torta II, é constituído por hidróxido bruto de tório e urano. Esse material era um subproduto de areias monazíticas, minério beneficiado quimicamente pela Nuclemon em sua planta na capital paulista, chamada de Santo Amaro, localizada no bairro do Brooklin.
O lixo atômico, como ficou conhecido, foi armazenado na cidade de 1975 a 1981, quando a unidade chegou a sua capacidade máxima, contendo 3,5 mil toneladas de material radioativo. Os silos foram selados por lajes de concreto e em 1988 receberam telhado de fibrocimento e a área foi cercada por arame farpado, mourões de concreto, portões fechados com cadeados e sinalização. A Nuclebrás foi adquirida pela INB – Indústrias Nucleares do Brasil. Em 2013 a empresa chegou a anunciar que o material radioativo seria retirado de Itu e levado para a China, fato que não aconteceu. Hoje, denúncias dão conta de que os tanques de concreto do depósito de Itu apresentam rachaduras, o que torna o local perigoso caso haja vazamento de material radioativo.
Com a desativação da Usina Santo Amaro, em 1992, os rejeitos existentes foram transferidos para a Usina de Interlagos. E com a desativação da Usina de Interlagos, o Governo Federal, por ordem do Ministério Público do Estado de São Paulo, cogita a possibilidade de trazer esse material para Itu, coisa que ninguém quer. Uma coisa é certa: o material radioativo, hoje guardado em velhos galpões localizados no bairro de Interlagos, na zona sul de São Paulo, não poderá mais ficar no local, que é cercado por prédios residenciais, e terá de ser remanejado.
Imagem do satélite do Google Maps do local conhecido como lixo atômico em Itu
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