Ataques ocorreram durante apresentação de live do canal Pretos de Itu, no YouTube
DA REDAÇÃO - Regina Lonardi
FOTO: Reprodução Youtube
Publicada em 8 de fevereiro de 2022 - 18h05
Os apresentadores do podcast Pretos de Itu, Leonardo Moraes e Susley Rodrigues registraram boletim de ocorrência virtual e também na Secretaria de Justiça e Cidadania alegando que sofreram ataques racistas na internet, durante transmissão ao vivo no canal do Youtube. A live aconteceu no dia 26 de janeiro, para discutir assuntos sobre saúde mental e questões raciais, e contou com a participação da psicóloga Rosália Maria Rodrigues.
Durante a live, começaram a aparecer vários comentários racistas. A primeira ofensa foi direcionada à professora e psicóloga Rosália, chamada pelos criminosos de “tia macaca”. As ofensas, que começaram durante a transmissão, seguiram no perfil do podcast no Instagram, através de vários perfis falsos. Os apresentadores do podcast e a convidada também são chamados durante a live de “povo macaco”, “macacada”, além de outras inúmeras frases ofensivas e racistas. Injúria racial e racismo são crimes imprescritíveis e inafiançáveis, previstos no Código Penal e podem resultar em penas de prisão.
O Portal Ituanos conversou com os integrantes do podcast Pretos de Itu
“Fui o primeiro a ver as mensagens. Tem um momento do Podcast que lemos as mensagens dos participantes e eu que controlo quais são os que vão aparecer na tela. Preferi não falar na hora pra Susley, nem pra Rosália e imaginei que seria uma ou duas mensagens, isso já havia acontecido outras vezes. Mas dessa vez eram 2 pessoas nos ofendendo com mensagens muito violentas, tanto que a nossa produção nos avisou e aí sim elas ficaram sabendo do ataque. Todos que estavam assustados pediram para eu bloquear as mensagens e os agressores, mas decidi deixar para ver até onde eles iriam, já que avisamos que a Susley é advogada e que iríamos processa-los. O aviso foi em vão. Eles continuaram com mais violência ainda até o último segundo da transmissão e depois foram para o Instagram com 4 perfis fakes e continuaram as ofensas lá. Estão mandando as mensagens até hoje”, explica Leonardo.
Primeira vítima
A entrevistada Rosália foi o primeiro alvo das ofensas racistas. Ela relata que ficou sem ação no momento. “Nem todo dia resisto. Às vezes vacilo, tem dias que penso em não me levantar, me vejo em um corpo negro, características femininas em uma sociedade racista e machista. Ao retomar a consciência sou acometida pelo fato de ter colocado neste plano espiritual mais três corpos negros, compreendo então a importância de continuar. Kabengelê Munanga (antropólogo e professor brasileiro-congolês, especialista em antropologia da população afro-brasileira) diz que o racismo brasileiro é um crime perfeito pois, responsabiliza a própria vítima”.
Essas pessoas se aproveitaram do anonimato na internet para ofender e intimidar, mas os prints com mensagens ofensivas foram denunciados. “Foi um ato de ódio e de intolerância dado a quantidade e o nível das ofensas. Me senti ameaçado como naqueles filmes que narram o que acontecia com os negros nos Estados Unidos nos anos em que lutavam por direitos civis. É racismo pois foi proferido não só a nós individualmente, mas ao nosso grupo étnico", descreve Leonardo. "Susley é advogada e na hora que viu as mensagens já disse durante a transmissão mesmo que iria processá-los pois identificou qual crime havia sido cometido”, completou o apresentador.
Para a apresentadora e advogada Susley, esse caso precisa ser apurado. “Eu, enquanto advogada identifico como sendo crime de racismo. Não atacou apenas a minha honra. Ofendeu todo o grupo étnico. Mas isso depende do entendimento do delegado na hora de dar continuidade nessa reclamação. Assim que identificarem os autores vamos entrar com queixa crime”, explicou.
Constrangimento e Revolta
“Minha sobrinha Susley que me convidou para o podcast veio me pedir desculpas por eu ter que passar por isto, o que me levou a pensar, quem deve pedir desculpas sou eu que estou na luta antirracista há tanto tempo e não consegui evitar que fossemos atingidas/os. Pensando melhor sei que não é nada disso, quem nos deve desculpas, além de tantas outras coisas como por exemplo, justiça, respeito, reparação histórica... esta lista é imensa, são as pessoas que buscam o tempo todo retirar nossa humanidade e em muitos momentos tiram nossas vidas. Apesar de toda luta e resistência, que é ancestral, ainda não pudemos contemplar um minuto de paz, proteção para nossos corpos, nosso espírito, nossa existência e acredito que seja exatamente por isto que me levanto e digo: Sigamos... sei que não estou sozinha!!”, destaca Rosália.
A luta vai continuar
“Não deixe de procurar as autoridades e denunciar, principalmente expondo nas redes sociais e na imprensa o ocorrido. Hoje existem leis que nem sempre são cumpridas, mas temos um pouco mais de voz e visibilidade através da internet. Fazer com que essa informação se dissemine é uma ótima estratégia para que um crime de racismo seja interpretado como tal e não somente como um ato banal. Exigir seu direito contra um crime previsto na lei não faz de você uma pessoa vitimista. Não caia nessa armadilha. Procure a ajuda de um advogado(a) Preto. Tem que haver essa identificação com a causa”, finaliza Leonardo.
Polícia está no caso
Conforme disse a delegada titular de Itu, Márcia Cruz, em entrevista ao SBT Sorocaba, que esse tipo de atitude é considerada crime e pode resultar em prisão. Segundo ela ”a gente oficia o instagram pedindo os dados dessas pessoas que foram identificadas com o nome de usuário e com isso tenta rastrear para identificar quem são essas pessoas. A pena para injúria racial é de 1 a 3 anos de reclusão e se for caracterizado crime de racismo a pena começa com 1 a 3 anos de prisão, e ele se torna um crime imprescritível e inafiançável”.
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