Eduardo Kobra, muralista brasileiro e Sasha Korban, muralista Ucraniano, trabalhando juntos em São Paulo
DA REDAÇÃO - com informações de Elaine Patrícia Cruz – Repórter da Agência Brasil
FOTOS: Paulo Pinto / Agência Brasil e reprodução Instagram Ucrânia (Milana)
Publicada em 9 de março de 2024
Desde o dia 5 de março, quem passa pela Avenida Pedroso de Moraes, na altura da esquina com a Rua Pinheiros, não consegue deixar de notar e admirar dois grandes murais estampados na lateral de um prédio de 10 andares. São duas obras coloridas, posicionadas lado a lado e feitas ao mesmo tempo, por dois grandes nomes da Street Art mundial: o brasileiro Eduardo Kobra, reconhecido como um dos maiores muralistas do mundo da atualidade e Sasha Korban, muralista ucraniano, que no início da guerra de seu país contra a Rússia ficou mundialmente conhecido por sua obra Milana, um mural pintado em um prédio da cidade ucraniana de Mariupol. A pintura, uma menina de três anos abraçada a um urso de pelúcia, homenageou a pequena Milana Abdurashytova, que teve a mãe morta por um ataque de míssil russo enquanto tentava protegê-la. A pintura acabou se tornando um símbolo de resistência no país.
Obra "Milana", de Sasha Korban, exposta na lateral de em um prédio em Mariupol, na Ucrânia
O projeto de união pelo mural duplo no Brasil aconteceu após o primeiro encontro de Kobra e Korban no Brasil, que ocorreu em Itu, onde o artista brasileiro recentemente inaugurou seu ateliê. Foi aqui que eles pensaram no desenho que estamparia as duas paredes do prédio. O trabalho de pintura começou no dia 27 de fevereiro.
“No meu ateliê pudemos discutir detalhes técnicos de proporção, de tamanho, de estética e de logística, e em como a gente iria fazer para organizar essa pintura”, disse Kobra. “Não é fácil uma pintura como essa. A gente pegou agora uma semana, ainda bem que não choveu, mas teve calor intenso, então é um trabalho realmente duro, mas, como costumo dizer, o mais importante não é a pintura em si, mas a mensagem, o argumento”, acrescentou o muralista brasileiro, que se mudou para Itu durante a pandemia do Covid-19 e hoje está totalmente integrado à cidade, agregando um enorme valor à arte e à comunidade local.
Já o artista ucraniano Sasha Korban, em sua primeira visita ao Brasil, conta que, para vir ao país, ele precisou pedir permissão especial do governo ucraniano. “Eu não estava participando diretamente no campo de batalha, mas como na Ucrânia está tendo guerra, os homens não podem atravessar fronteira sem autorização”, disse ele à Agência Brasil. Ele afirma que tem consciência de que logo será chamado para ir ao front.
Unir Kobra e Korban no projeto de um mural no Brasil para celebrar a paz e a preservação do meio ambiente foi ideia do Instituto Ucraniano, uma instituição governamental que tem a missão de promover a cultura ucraniana. “Este é o nosso primeiro projeto no Brasil e inclui dois artistas, um ucraniano e um brasileiro, porque por meio da arte nós conseguimos falar não somente sobre os problemas que temos em comum, mas também das oportunidades e poderes que temos em comum”, disse Alim Aliev, diretor-adjunto do Instituto Ucraniano, em entrevista à Agência Brasil.
“Além de destruir muitos artigos de arte, muitas vidas e os destinos do povo, a guerra também está destruindo a ecologia e o meio ambiente. Hoje, a Ucrânia é considerada um dos territórios mais poluentes do mundo. Entendemos que se não nos mobilizarmos com esse tema hoje, juntos e com todo o mundo democrático, então amanhã nos espera um futuro muito difícil”, acrescentou Aliev, que também obteve permissão do governo ucraniano para vir ao Brasil.
À esquerda, a obra de Sasha Korban, mostra uma bailarina ucraniana em gesto semelhante ao de luta. À direita, a obra de Kobra mostra um vaso com as cores da ucrânia, quebrado e sendo reconstruído por mãos de duas pessoas. Borboletas saem do vaso e voam no entorno da peça sendo recuperada
“Quero fazer isso, desenhar algo que dê esperança ao nosso país e aos nossos povos, para que ainda possamos ser como vivíamos antes. Claro, a guerra teve sua influência em todo o povo ucraniano e para mim também. Eu sempre estava desenhando algo que dava esperança, que mostrava a vida e a vontade de viver. Mas depois que a guerra começou, minha arte começou a refletir mais essas ideias de esperança, de desejo de vida e a ideia de que vamos conseguir resistir e termos uma vida normal”, disse Korban. “Meus desenhos não são diretamente sobre guerra, mas mostram a humanidade na condição dessa guerra”, concluiu o muralista ucraniano.
“Gosto de tratar de temas que falam de paz, de tolerância, de união dos povos, de respeito, de coexistência. Já venho há muitos anos trabalhando os murais com essas temáticas”, disse o artista brasileiro Eduardo Kobra. “Achei a ideia do mural conjunto excepcional justamente para que possamos, juntos, por meio dos nossos pincéis e das nossas tintas - que são as nossas armas - passarmos essa mensagem pedindo o fim dessa guerra, que é um absurdo”. “Acho que qualquer pessoa percebe o quão absurdo é qualquer tipo de guerra e eu acho que o mundo tem que se mover para que esse tipo de conflito cesse o mais rápido possível”, ressaltou Kobra.
O brasileiro Eduardo Kobra e o ucraniano Sasha Korban: trabalho conjunto pela paz e meio ambiente
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